Como já referido num "post" anterior, Ourém também participa no evento "7 Maravilhas da Gastronomia". Concorre à categoria "Sopa" com Sopas de Verde, numa filosofia de provento máximo dos parcos recursos disponíveis, aquando da morte do carneiro, o sangue derramado era vertido para um recipiente e cozido em água com sal.
Segundo a oralidade, foi, de resto, o sangue - «o verde» - que apelidou a receita. Entretanto, as carnes da fressura eram despejadas, em pequenos pedaços, num tacho e revigoradas com alho, azeite, vinho, cebola, salsa, pimenta (ou piripiri), e louro. Ficavam a marinar durante algum tempo. O sangue cozido, cortado em cubos, era revolvido para absorver os condimentos. À parte, numa sopeira, eram estendidas «sopas» de pão de trigo - “sabia melhor com o pão de trigo comprado no padeiro. Em casa não conseguíamos fazer pão tão macio”, apaladadas com ramos de hortelã e regadas fartamente com o molho do guisado. O abandono crescente da criação de ovinos levou a que hoje os festeiros comprem as carnes aos talhantes, que por vezes lhes propõem fressura e sangue de vaca como opção. Mas a prática mantém-se acesa e ciclicamente dinamizada nas festividades religiosas, captando para as mesas corridas e comensais paroquianos e «estrangeiros», com o propósito de saborearem as tais sopas de verde, que não fazem em casa porque “sabem muito melhor quando são feitas para muita gente”.
Concorre ainda à categoria "carne" com Friginada,que após uma pesquisa ao termo friginada na Internet remete-nos invariavelmente para Ourém, onde aparece como especialidade «típica» local. Com efeito, é um ícone da identidade oureense ao acarretar referências económicas e culturais. Morto e chamuscado o porco, seguiam-se a lavagem e a esfola. Enquanto os homens executavam estas empreitadas, as mulheres, na cozinha, cortavam as «miudezas» do animal, como o fígado, os pulmões, conhecidos no vulgo por bofe, e algumas carnes gordas; depois temperavam as carnes com sal, pimenta, louro, colorau, cominhos, cravinho e alho picado e deixavam-nas em repouso durante poucas horas, para apurarem o gosto. Assente numa trempe pesada, sob a qual estalava a fogueira, um tacho de barro recebia a banha da gordura do porco; à mesma, já derretida, juntava-se o preparado. Com evoluir da cozedura era acrescentado vinho que condimentava as carnes e evitava que se queimassem, derivando num molho espesso e condimentado, no qual os comensais embebiam a broa quando chegava a hora de se servirem. Este mantimento reunia toda a família e demais participantes no ritual, contribuindo para eventuais atenuamentos de tensões e de conflitos familiares e vicinais, além de que regularizava a reafirmação anual da conduta rural dos núcleos domésticos e comunais, que prezavam designadamente o valor da auto-suficiência. A entrada em vigor de nova legislação e transformações económicas e sociais decretaram a extinção dos rituais inerentes à matança do porco, salvo casos residuais e com uma morte aparentemente anunciada, bem como induziram à alteração parcial de preceitos na confecção. A proibição do abate deste animal em casa, além de enfraquecer a assiduidade da tachada, implica a compra das carnes no talho; passaram a ser somadas carnes magras às demais, na mira de captarem novos apreciadores; finalmente, regista-se uma diversificação dos acompanhamentos, embora continue a ser mais comum a broa, a batata e os grelos de nabo por a sua fase de colheita, no Inverno, coincidir com o período habitualmente escolhido para a matança do porco.
Organismo responsável pela candidatura: ADIRN - Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Norte
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