No próximo domingo, os portugueses vão às urnas eleger o próximo Presidente da República. No boletim de voto, lá estarão alinhados pela ordem do sorteio os candidatos que conseguiram reunir os preceitos legais.
Não existe grande renovação nestes últimos 30 anos. Este talvez seja o maior mal da política portuguesa. No avançar dos anos, os valores foram-se degradando. Hoje, por muito que custe aos políticos e aos carreiristas, a mediocridade sobressai. Infelizmente, para o povo português.
Por muito desiludidos que os cidadãos se sintam, é obrigatório que todos se apresentem nos locais de voto, demonstrando que a democracia tem muito peso na sociedade portuguesa. A liberdade de votar, de saber que a sua contribuição é um préstimo muito importante para a solidez do regime democrático, obriga cada cidadão a cumprir voluntariamente um acto de cidadania para reforço da sua própria soberania.
O cidadão eleitor não pode permitir que sejam os seus vizinhos, aqueles que nada têm a ver consigo, os desconhecidos, a tomarem uma atitude e a escolherem o próximo Presidente da República, porque assim o cidadão fica sem o direito de contestar e de se indignar, porque o seu poder de decisão é importante no contexto de «um eleitor, um voto».
O seu voto tem o mesmo valor que o voto de qualquer pessoa, desde a mais humilde à mais importante. Independentemente da formação política-partidária que possa ter, da sua simpatia por esta ou por aquela força política, compete ao cidadão eleitor, ele próprio e só ele, expressar, através do voto, a sua vontade. Sejam quais forem os resultados saídos das urnas, seja qual for o vencedor, todos nós, ao votarmos, galvanizamos o regime pluralista vigente na democracia portuguesa.
O dever de todos os cidadãos comparecerem no acto eleitoral é um dever cívico, mas, acima de tudo, é importante que nos lembremos de que estamos perante uma das conquistas mais valiosas da democracia – a liberdade de eleger e de ser eleito.
O voto e a nossa liberdade de expressão, que os tempos presentes parecem querer abafar, são vitórias alcançadas sobre uma ditadura que nos impunha eleições com vencedores antecipados, amordaçava a livre expressão, restringia o direito de voto. O cidadão só se pode sentir como um ser livre, se ele mesmo for capaz de gerar a liberdade para todos os outros.
O acto de votar é gerador da liberdade. Que se constrói solidificando as bases da vivência sem opressão. Sem a participação, sem escolhas, caldeia-se uma opressão mascarada, branda, que vai minando a liberdade.
Quando se apela ao voto e os cidadãos, acomodados, proferem comentários como «querem é tacho», «vão trabalhar malandros», «comigo não contam» e outras tantas frases, assistimos ao desmoronar da democracia e do poder efectivo que os eleitores possuem de escolher quem muito bem entendem. É por todo este alheamento, pelo aumento da abstenção, que os políticos se instalaram e não se deu a renovação a classe política.
Eles sabem que contam com eleitores fiéis, muitos na espera de um favor ou de um lugarzinho, preocupando-se pouco com todos os que estão na outra margem. É preciso acabar, de uma vez por todas, com essa margem da abstenção, essa mancha negra na democracia. Os partidos fecharam-se, mas a política não começa nem acaba nas forças partidárias. O acto de votar é, também, um acto de fazer política.
Texto original: Hélder Nunes
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